E a minha brilhante série em derbies continua. Assisti ao vivo ao sétimo Sporting-Benfica da minha vida e a desgraça não tem fim: 7 jogos, 1 empate e 6 derrotas. E a taxa de insucesso só não é de 100% porque em 2001/02, aos 90 minutos, o grande Armando Sá resolveu cortar com a mão uma bola que ia sair pela linha de fundo e permitiu a Jardel empatar, de penalty.
Em relação à exibição do Sporting esta noite, ajusta-se o epíteto de Luís Filipe Orelha: um grupo de rapazinhos. Se no final dos anos 80 e início dos anos 90 eu admitia as derrotas frente ao Benfica com algum conformismo, devido à clara superioridade dos plantéis lampiões de então, já as derrotas sofridas nos últimos 10/12 anos custam muito mais a engolir, precisamente devido à falta de qualidade por que se têm pautado as equipas benfiquistas neste período. Penso mesmo que se trata de um caso psiquiátrico, já que não há outra forma de explicar o complexo que atinge os jogadores verde-e-brancos quando jogam com este adversário, ao passo que equipas à partida mais fracas o vencem com uma perna às costas (Boavista, Braga, Celtic, só este ano). Recordo-me ainda de outras derrotas: 1-4 em 97/98, frente ao Benfica de Souness, Deane, Saunders e Cia; 0-1 em 99/2000, no que podia ser o jogo do título; 0-3 na Luz em 2000/01, ano em que o Benfica foi 6º; 0-1 em 2003/04, quando bastava o empate para irmos à Liga dos Campeões. Não há explicação.
Quanto ao jogo desta noite, a explicação é simples. Paulo Bento queria controlar o jogo todo, mas o Sporting não esteve em campo nos primeiros dois minutos. Neles criou o Benfica metade das suas ocasiões de golo; na segunda marcou. Depois o Sporting atacou mais, teve mais hipóteses para criar perigo, mas falhou sempre, ao passo que o Benfica só lá foi mais três vezes: uma deu golo, outra uma bola na trave, outra ainda um livre perigoso. Na segunda parte os encarnados abdicaram de atacar, excepto nos minutos finais, enquanto o Sporting fez o jogo que mais convinha ao rival. Algumas notas individuais: Quim desta vez esteve melhor que Ricardo; Miguel Garcia voltou a mostrar a sua falta de categoria; os centrais estiveram muito inseguros; Nani tem de limpar a cabeça, pois julga-se o maior e continua a sua péssima série de jogos; Moutinho tem de escolher se quer ser um jogador pendular ou um jogador decisivo (recordo que no último jogo do Chelsea, o comentador da SportTV passou o tempo todo a criticar a actuação de Ballack, mas o alemão resolveu o jogo); Bueno foi o avançado mais perigoso do Sporting, o que mostra bem o momento de Liedson. O árbitro podia ter estado quase perfeito; bastava-lhe não pactuar com o anti-jogo e as fitas do Benfica, mostrando 2 ou 3 amarelos (Quim abusou) e dando mais 1 ou 2 minutos de compensação em cada parte. Não devia alterar nada, mas sempre acalmava mais a mole sportinguista. Mas continua a não haver vontade para acabar com isto, o que importa sermos dos futebóis com menos tempo útil de jogo?
Como já escreveu Gilberto Mandamil, Paulo Bento precisa de começar a pensar num esquema alternativo de jogo. Por muito bom que este 4x4x2 seja, há sempre momentos em que não basta trocar as pedras para as coisas melhorarem. Por vezes é mesmo preciso mudar o sistema. E restam poucas dúvidas de que a alternativa é o 4x3x3. Mas para isso era preciso ter extremos no plantel. Se em vez de nove médios tivéssemos sete e dois extremos se calhar o plantel ficaria mais equilibrado.
No fim do jogo ouvi algumas vozes contra Paulo Bento. Por mim, continuo a ser um acérrimo defensor do Risca ao Meio. Tem cometido alguns erros, é certo, mas ainda penso que é o homem certo. Por um lado, gosto do discurso dele. Por outro, é certo que, com ele, o Sporting nunca teve uma grande série de maus resultados, ao contrário do que aconteceu com os antecessores. Mostra que ele sabe recuperar a equipa. Por último, não quero vê-lo sair pela porta pequena e quando der por isso estar ele a treinar o Benfica ou o Porto, com sucesso, que, acredito, vai ter mais cedo ou mais tarde.
Uma das diferenças entre o Sporting e os seus rivais, e penso que decisiva, tem mesmo a ver com treinadores. Ao contrário de Benfica e Porto, o Sporting nunca teve um treinador que tivesse marcado profundamente o clube. Nenhum Béla Gutmann, nenhum Otto Glória, nenhum Pedroto, nenhum Mourinho. Talvez essa instabilidade explique o menor sucesso leonino em relação aos rivais. Por exemplo, quantos sportinguistas saberão qual é o treinador com mais títulos de campeão pelo clube? Será que toda a gente conhece Randolph Galloway, tricampeão entre 1951 e 53? Tirando ele, houve dois que bisaram, Josef Szabo em 41 e 44 e Cândido de Oliveira em 48 e 49. Outros nomes ficaram na memória, como Allison, Inácio ou Bölöni, mas nenhum deles teve sucesso consistente. Por isso, que tal deixarmos Paulo Bento ter a oportunidade de ser o nosso Alex Ferguson? Eu sei que Filipe Soares Franco já disse isso, mas sabe-se a facilidade com que os dirigentes mudam de teorias. E se a Juve Leo já impediu um tal de vir, pode bem ter poder para mandar este embora. Espero que não, continuo convicto de que Paulo Bento tem “qualquer coisa” que o recomenda.
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