Um móvel feito à mão

on Saturday, September 16, 2006
E prontos, chegou o dia. A euforia em Alvalade sofreu esta noite o primeiro revés da temporada. Era uma questão de tempo, depois de um início de temporada quase perfeito. Na verdade, o que se passou no Sporting-Paços de Ferreira não me surpreendeu, é uma situação natural no seio de uma equipa que quer ser grande mas ainda não é. Basta ver o que aconteceu ao Benfica no ano passado, e na diferença entre as prestações na Liga e na Champions.

O jogo de Alvalade, na verdade, foi muito parecido com o da primeira jornada, frente ao Boavista. O Sporting fez uma primeira parte demasiado passiva e tentou dar a volta no segundo tempo. No primeiro caso correu bem, no segundo não. Talvez tenha faltado a frieza de Deivid, desta vez.

Na terça-feira o Sporting venceu o Inter e fez sensação na Europa. No sábado o Paços de Ferreira venceu o Sporting e fez sensação em Portugal. Mas, deixem-me que diga, são sensações algo diferentes. O Sporting foi melhor que o Inter e mereceu inteiramente o triunfo. Já o Paços não foi melhor que os leões, mas teve a chamada vaca, que aparece em certos momentos de uma época. Infelizmente, calhou-nos a nós. Várias vezes aplaudi adversários que ganharam ou empataram em Alvalade. Não foi o caso da equipa de Mota, que jogou para o 0-0 e viu sair-lhe a lotaria. Não fiquei a respeitar nem a temer mais o Paços depois de hoje. É legítimo jogar assim, na luta pela sobrevivência, mas só reforça a convicção de que a redução do número de equipas foi ineficaz, no que respeita ao aumento da competitividade e da qualidade da Liga. Isto porque tirando os primeiros seis ou oito classificados, as restantes equipas têm sensivelmente a mesma (pouca) qualidade. Por isso, mais que oito equipas já permite indigência futebolística a mais.

O Sporting tem de rever rapidamente a forma como entra nos jogos, especialmente nestes frente a equipas inferiores. Se não entrar a matar está a dar trunfos ao adversário. Escusadamente. Mas até acho que reagimos bem no segundo tempo. Percebendo que, desta vez, Nani e Moutinho não estavam a conseguir criar jogo, a equipa começou a optar por passes longos para as alas, de onde saíram inúmeros cruzamentos. Foi o suficiente para criar quase duas mãos cheias de oportunidades flagrantes. Três defesas incríveis de Peçanha, uma bola na trave e uma batelada de remates para fora impediram a equipa de Paulo Bento de somar três justificados pontos. Penso que não há que desanimar, um jogo deste tipo acontece de tempos a tempos. Recordo-me que no ano do último título também perdemos em casa com o Alverca nas primeiras jornadas e recuperámos do choque. Se a equipa reagir com uma vitória já na Vila das Aves, tudo voltará à normalidade.

Nos quatro jogos oficiais já disputados o Sporting foi sempre superior ao adversário, criou mais oportunidades e gerou maior volume de jogo. Mas Liedson anda desinspirado e Bueno e Alecsandro ainda têm muito que provar. Infelizmente não somos o Chelsea, onde Mourinho começou por ter Kezman; o sérvio não vingou, não faz mal, traz-se o Crespo de volta; o argentino queria regressar a Itália, tudo bem, venha daí o Shevchenko. Convenhamos que assim é mais fácil.

Claro que, depois do belo título que dei à posta, não podia deixar de falar no assunto. Houve muita mãozinha no triunfo do Paços. Além do golo de Ronny, que provou ser um ponta-de-lança completo (será que já marcou de bunda, o sonho de Jardel?), por três vezes os jogadores pacences cortaram intencionalmente jogadas leoninas com a mão. Nunca mereceram sanção disciplinar. Li nos jogos em directo da Bolha e do Jogo que os lances em que Moutinho e Liedson caíram na área eram mesmo merecedores de penalty. O que me leva a reflectir: nunca a suspeição sobre os árbitros foi tão grande como agora, mas eles enganam-se cada vez mais e de forma mais grosseira. Será que se perdeu toda a vergonha e o pudor e o sentimento de impunidade é cada vez mais forte? Ou será que eles são mesmo maus, pior ainda do que se pensava? Qualquer que seja o caso, é muito grave. Se as equipas portuguesas (incluindo a selecção) têm evoluído desta maneira com estas condições, o que seria se a organização do futebol tuga fosse um mundo são?

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