

Se o 0-0 não servia as aspirações da equipa portuguesa, o golo de Ulf Kirsten (o mesmo que anos depois esteve para ingressar no grémio lisboeta) aos 24 minutos veio piorar a situação. Cantava-se então ao ritmo de "Go West" dos Pet Shop Boys. O quadro ficou ainda mais negro para as hostes benfiquistas quando, já na segunda parte (58 minutos), Bernd Schuster entrou pela defesa benfiquista como "faca quente em manteiga no verão" e ampliou o marcador para 2-0. "Acabou!" deve ter sido o pensamento dos milhares de portugueses presentes no estádio e dos milhões que seguiam a partida pela televisão. Diria mais, diria até que os próprios jogadores devem ter pensado o mesmo. Pensamento fugaz certamente, pois no minuto seguinte tinha início uma das mais emocionantes e dramáticas noites do futebol português.
Na sequência de um pontapé de canto sobre a direita, a bola sobra para Rui Costa à entrada da área alemã. Com três germânicos pela frente, decide dar de calcanhar para Abel Xavier que, com um poderoso e colocado remate de primeira, reduz a desvantagem para 2-1.

A alegria invadia finalmente os milhares de benfiquistas presentes no estádio, e os milhões de benfiquistas espalhados mundo fora! A certeza da apuramento chegou quando num contra-ataque rápido Kulkov coloca pela primeira vez em 168 minutos o Benfica em vantagem no marcador. Na prática, a vantagem era de 2 golos e com 12 minutos para jogar não restava ao Bayer senão honrar a camisola.
Puro engano! Aos 80 minutos Ulf Kirsten voltava a marcar e no minuto seguinte Hapal colocava novamente os alemães na frente da eliminatória. A euforia portuguesa tinha virado pesadelo. Briosos e profissionais a 100%, os jogadores do Benfica não viraram a cara à luta e foram atrás do prejuízo, sendo recompensados 4 minutos depois com o segundo de Kulkov após um brilhante passe de João Pinto.
A este ritmo, os minutos finais pareciam uma eternidade. Com o resultado e a eliminatória em aberto, foi sofrer até ao fim por parte dos "camisolas berrantes" pois Isaías ainda teve oportunidade de falhar dois golos de palmatória. Imagino que o saudoso Jorge Perestrelo tivesse dito na altura qualquer coisa como "mas o que é que é isso ó meu? Até eu com a minha barriguinha fazia melhor!".
Anos volvidos após este épico jogo, digno de constar nos compêndios do futebol, alguns dos intervenientes deixam o seu testemunho!
Hélder - «Foi um jogo frenético e histórico. Pensámos várias vezes que estávamos eliminados e depois voltámos a estar apurados. Depois de termos marcado três golos sabíamos que era impossível não passar. Foi o jogo mais incerto e com menos paragens que tive».
Rui Costa - «Há uma frase que resume esse jogo: o treinador do Bayer disse que se eles tivessem marcado sete golos nós marcaríamos outros sete, e é verdade. A certa altura já sentíamos que tinha de acontecer mais qualquer coisa, não íamos ficar pelo caminho assim. O jogo esteve completamente de um lado, depois de outro, voltou a mudar e continuou aberto até ao último segundo. Nenhuma das equipas confiava no empate, jogavam as duas declaradamente para a vitória, e encaixaram bem uma na outra. Foi um jogo de muita técnica, fabuloso!».
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