Italianizar porquê?

on Saturday, July 1, 2006
E prontos, estão definidas as quatro equipas que vão até ao fim neste Mundial. Alemanha (tricampeão), Itália (tricampeão) e França (campeão) são três países habituados a estas andanças. O mesmo não se passa com Portugal, que há 40 anos que não chegava a esta fase de um Mundial. Mas como vice-campeã europeia, a selecção tuga tinha algum prestígio a defender. E fê-lo com categoria, independentemente do que aconteça nos dois últimos jogos. A grande sensação da prova é o facto de só estarem equipas europeias nas meias-finais, o que não acontecia desde 1982. Aliás, nesse ano disputou-se a última final sem a presença da Argentina ou do Brasil. Até agora.

A não presença destes dois países nas meias-finais é, sem dúvida, o grande destaque deste Mundial. Brasil e Argentina são, sem margem para discussão, os dois países do mundo que mais talentos produzem para o futebol. O que falhou então? Na minha opinião, falhou a disposição com que as duas equipas entraram na maioria dos cinco jogos disputados por cada uma. Brasil e Argentina abdicaram, sem um pingo de vergonha, das suas melhores características, e resolveram apostar na italianização do seu futebol, isto é, num controlo absoluto das circunstâncias, a partir de trás e apenas arriscando em determinadas ocasiões. Ambas se deram mal.

Frente à Alemanha, a Argentina apostou num jogo de contenção. Os comandados de Pekerman tiveram muita posse de bola, mas quase toda ela no seu meio-campo. Os argentinos não queriam arriscar e os alemães não pressionavam muito à frente. A equipa sul-americana acabou por chegar ao golo na primeira oportunidade que teve, num lance de bola parada (ou esquemas tácticos, como diz o génio José Peseiro). Sinceramente temi que o resultado estivesse feito, tal era o conforto com que os argentinos pareciam sentir-se naquela situação. Menosprezei os alemães (shame on me), que, ao seu estilo, foram intensificando a pressão quase sem se dar por isso. O golo surgiu naturalmente, numa bela combinação aérea. Nos entretantos, a Argentina pouco aproveitou para contra-atacar (apenas uma oportunidade de Maxi Rodriguez, após uma perda de bola da defesa alemã) e Pekerman acreditou que o jogo acabava aos 90 minutos, como demonstram as substituições que fez. Só na segunda parte do prolongamento a Argentina veio para a frente, talvez por perceber que nos penalties dificilmente bateriam os alemães. Já foram tarde e na estupidamente chamada “lotaria” perderam sem apelo.

Já o Brasil deu-me a sensação de não ter optado ostensivamente por este tipo de jogo frente à França. Simplesmente os brasileiros estavam mal habituados, devido às equipas macias encontradas até então, e foram surpreendidos pela França, a equipa mais experiente deste Mundial. Depois de um começo razoável, os canarinhos perderam completamente a posse da bola e o controlo do jogo. A França, a subir de forma depois da primeira fase, fez o que quis do jogo e até Zidane fez uma exibição como há muito não se lhe via. Quando quis reagir, o Brasil não encontrou meios, o que lhe valeu a eliminação da prova.

Curiosamente ambas as equipas sul-americanas tiveram um jogo excepção. O Brasil frente ao Japão e a Argentina contra a Sérvia e Montenegro. De resto, as duas equipas optaram sempre por jogar de forma muito controlada, deixando o espectáculo de lado, o que contraria a sua natureza. Esse estilo de jogo é desde (quase) sempre utilizado pela Itália, considerado o país dos mestres da táctica. No entanto, e apesar de a Itália já estar nas meias-finais (beneficiando do calendário mais fácil na segunda fase), está por provar que esse estilo dê tão bons resultados que valha a pena transportá-lo para outras equipas. Que eu saiba a Itália só venceu um Mundial depois da II Grande Guerra. Porque é então tão sobrevalorizada a sua alegada mestria táctica?

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