O Vitória, mesmo tendo no seu palmarés apenas uma Supertaça conquistada no final dos anos 80, é indiscutivelmente o clube português, a seguir a Benfica, Sporting e FC Porto, que tem uma massa adepta mais apaixonada e mais presente, tanto em qualidade como em quantidade. Os vimaranenses enchem o seu estádio e, ao contrário do que acontece noutros locais (Setúbal, por exemplo), os vitorianos são vitorianos em 17 jogos por ano e não apenas em 16 (quando um dos grandes visita o Bonfim, por exemplo, há sempre transformistas, em termos de preferência clubística).

Quando o futebol surgiu em Portugal, no final do século XIX, logo foram formados inúmeros clubes. Lisboa foi disso exemplo, como mostram os inúmeros clubes que irromperam na capital e arredores: além de Benfica e Sporting, Carcavelos, Lisbon Cricket, CIF, Cruz Negra, União Belenense, Ajudense, Gilman, Campo de Ourique, Império, Lisboa FC, Cruz Quebrada e, finalmente, em 1919, o CF “Os Belenenses”. Depois surgiram ainda outros, como os Unidos de Lisboa, a União de Lisboa, o Carcavelinhos (os dois últimos deram depois origem ao Atlético), Casa Pia, Oriental, etc.
Há cem anos (e até menos), Lisboa, mais do que uma cidade, era um conjunto de aldeias. Muitas pessoas passavam semanas e meses sem saírem dos seus bairros, onde viviam e trabalhavam. Os clubes de futebol acabavam por representar esses mesmos bairros junto da cidade de Lisboa. Com o passar das décadas, a cidade foi-se tornando maior (cresceu em área), mas também mais pequena (com a evolução dos transportes). Dessa forma, as pessoas começaram a ter cada vez maior mobilidade e facilidade de deslocação e a identificação com o seu bairro foi perdendo força. Isso ressentiu-se a nível futebolístico e as pessoas, naturalmente, foram-se identificando com os clubes vencedores, como o Benfica, o Sporting e, até certa altura, o Belenenses. Clubes como Atlético e Oriental foram perdendo massa adepta e desapareceram do mapa profissional português. Hoje um jogo na Tapadinha ou em Marvila tem menos gente que um treino de um clube grande.

Pegando no exemplo dos campeonatos mais importantes da Europa ocidental, confirmamos que a mesma situação se verifica noutros países. Tirando a magnífica excepção de Londres, nenhuma outra cidade consegue ter mais que dois clubes na divisão principal. Em Espanha temos Madrid, Barcelona e Sevilha com dois clubes. Em Itália, Milão e Roma. Em Inglaterra, além da já citada capital, temos Manchester, Liverpool e Birmingham. Em França e Alemanha nenhuma cidade tem mais que um clube no escalão maior. Tirando Londres, repito, apenas nos países de leste acontece uma maior variedade de clubes numa só cidade, principalmente nas capitais. Moscovo, Budapeste, Bucareste, Atenas, Istambul (não é capital, mas é a maior cidade turca) são os melhores exemplos. Mas Portugal, embora por vezes não parecendo, é um país ocidental e por isso prevejo que nas próximas décadas o histórico Belenenses passe por muitas dificuldades para se manter à tona do futebol português. Até porque parece interessar cada vez a menos gente.
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