Excentricidades

on Saturday, October 15, 2005
Estava a ser um jogo pouco interessante aquele particular no famoso estádio de Wembley, decorria o ano de 1995. Apenas 20 mil pessoas presenciavam a partida entre Inglaterra e Colômbia e a expressão “jogo de treino” estava a ser levada à letra. Aos 22 minutos de jogo, o médio inglês Jamie Redknapp, com um vulgar “balão”, envia a bola para a deserta área colombiana. Este lance nunca mais seria lembrado (bem como o fraco jogo)…se não fosse o excêntrico René Higuita, guarda-redes sul-americano, a transformá-lo num dos mais belos momentos da história do desporto. Ao invés de apanhar a bola calmamente, Higuita salta, ficando de barriga para baixo, dobra as pernas para trás e afasta a bola com os pés, num reflexo extraordinário. Estava inventado o "pontapé escorpião".
“Se ele tivesse feito isto ao serviço da selecção inglesa nunca mais seria convocado”, comentara mais tarde o lendário Gordon Banks. Já o médico da selecção britânica ficara impressionado pela convicção de Higuita ao realizar uma acrobacia que o podia lesionar gravemente para o resto da vida.
Não era contudo, a primeira vez que Higuita realizava algo pouco ortodoxo: o mítico guardião colombiano era conhecido em todo o mundo pelas suas contínuas investidas com a bola nos pés, controlando-a até para além do meio-campo. E uma dessas célebres ousadias resultara na eliminação da sua selecção no Mundial 90, em Itália, quando o camaronês Roger Milla não se deixou enganar por uma finta e, depois de um roubo de bola, fuzilou as redes que tinha à sua mercê.

Higuita - Antes e depois de ir ao Tallon
Também conhecido pelo facto de não se limitar a defender foi Jorge Campos. O “keeper” mexicano dos anos 90, para além de se evidenciar devido às camisolas dois tamanhos acima do adequado e com cores garridas, fazia questão de jogar, sempre que possível, como ponta-de-lança. Mas desenganem-se aqueles que pensam que o atleta originário de Acapulco era um tosco completo: surpreendentemente dotado de uma técnica muito acima da média, para além do facto de ser exímio na cobrança de lances de bola parada. Participou em 2 mundiais (EUA 94 e França 98) e representou o seu país por 129 vezes, para além de ter passado por 5 dos maiores clubes do seu país (Pumas, Atlante, Cruz Azul, Tigres e Puebla) e duas formações norte-americanas, Los Angeles Galaxy e Chicago Fire. Marcou 35 golos ao longo da sua carreira.

A América do Sul é, definitivamente, um continente rico no que toca a guardiões com pouca vocação para passarem despercebidos. José Luís Chilavert é talvez aquele de maior renome no que toca aos últimos anos: 2 vezes considerado o melhor guarda-redes do mundo (1995 e 1997), o paraguaio passou pelo Sportivo Luqueno, do seu país natal, San Lorenzo e Velez Sarsfield, da Argentina, contando ainda com uma passagem pelo espanhol Saragoça. Marcou 62 golos ao longo da sua carreira, 8 deles ao serviço da selecção. Foi visível a sua desilusão ao sofrer um golo de Laurent Blanc, nos oitavos-de-final do Mundial 98, já nos minutos finais do prolongamento. O apito que indicaria o final do tempo extra estava muito próximo e daria início à marcação de pontapés da marca de grande penalidade (chiça, tanta coisa para dizer “penaltys”), lances onde Chilavert era especialista, tanto a defender como a marcar…

Gamarra festeja mais um triunfo paraguaio no Mundial 2002, enquanto Chilavert parece assustar o seu desamparado companheiro de equipa
Muitos são os defensores das redes que seguiram o mesmo caminho e fazem o gosto ao pé com regularidade. Rogério Ceni, brasileiro do São Paulo, e Hans Jorg Butt, alemão do Leverkusen, são exemplos disso. Já Ricardo “Labreca” devia começar a fazer o mesmo…

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