Um Guarda-Redes Improvisado

on Thursday, February 1, 2007
Numa noite chuvosa no velhinho Estádio do Bessa, e em vésperas de um Benfica - Porto, Boavista e Benfica disputaram um dos mais emocionantes duelos entre as duas equipas. Corria então o ano de 1993, ano em que poucos meses mais tarde as duas equipas se voltariam a encontrar na final da Taça de Portugal.
Ainda não estavam decorridos dois minutos de jogo e já Marlon Brandão colocava a equipa de xadrez na frente do marcador depois de um mau alívio de Mozer na sequência de um canto sobre a direita. O jogo não podia ter começado melhor para os da casa!
O Boavista apresentava então uma equipa onde pontificavam nomes como Mamadu Bobó Djaló, Artur, Marlon Brandão e Nelson Bertolazi, mas também Lemajic, Nogueira, Garrido, Venâncio e Paulo Sousa por exemplo.
O Benfica, treinado por Toni, alinhava com Neno, Veloso, Hélder, Mozer, Schwartz, Paulo Sousa, Rui Costa, Isaías, Futre, Pacheco e Yuran, sendo que alguns destes jogadores ainda deixam saudades para os lados da Luz.
Aos 14 minutos de jogo, e partindo de uma posição no mínimo duvidosa, Yuran isola-se, contorna Lemajic e empurra para a baliza deserta. Estava feito o empate! Já na segunda parte, o avançado russo recebe um passe de Rui Costa a meio do meio campo ofensivo e, fazendo valer toda a sua velocidade e poderio físico deixa Venâncio para trás, entra na área e bate pela segunda vez o guardião do Boavista.
O domínio dos visitantes era de tal forma evidente que, mesmo antes de chegarem ao 3-1, Paulo Futre conseguiu protagonizar um dos mais caritatos falhanços de que há memória no futebol português e digno de figurar em qualquer compêndio de apanhados do desporto rei. Depois de se isolar e ultrapassar facilmente Lemajic, o jogador do Montijo, que completou nessa época Santíssima Trindade do futebol português, conseguiu não acertar na baliza deserta.
Este falhanço pareceu perder importância com a obtenção do 3º golo encarnado apontado por Isaías bem ao seu estilo. Contudo, o que se passaria daí para a frente foi tudo menos tranquilo para o Benfica. Primeiro, Hélder é expulso. Não fosse já esta dificuldade o suficiente para atormentar os adeptos benfiquistas, eis que Neno derruba estupidamente Nelson Bertolazi em plena área. Consequência directa, penalty e expulsão.
Com mais de 15 minutos para jogar e sem substituições para fazer, foi Paulo Sousa que, num dos actos mais pós-modernos do futebol tuga, assumiu a posição de guarda-redes. E se no pénalty apontado por artur não havia nada fazer, no resto do encontro o médio do Benfica deu bem conta do recado. Diria mais, diria mesmo que brilhou a grande altura numa espectacular defesa a um grande remate de Bobó de fora da área. Dizia o comentador "quem sabe se não se descobre aqui um bom guarda-redes". Se se descobriu ou não, não sei. O que sei é que Paulo Sousa foi talvez o melhor médio português que vi actuar!

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