Benfica - A campanha europeia de 1982-83

on Monday, May 7, 2007
Heidi Klumpf é um dos leitores que mais prezo e atendendo a um seu pedido pretérito faço agora esta posta sobre aquela magnifica equipa do Benfica que atingiu a final da Taça UEFA em 1983.
Tudo começou quando o Presidente Fernando Martins contratou o jovem treinador Sven Goren Erickson. Apesar da desconfiança dos sócios, o técnico já tinha provas dadas nomeadamente a Taça UEFA conquistada ao serviço do Gotemburgo, numa final com o Dundee United.


A nível interno o Benfica venceu o campeonato e a Taça de Portugal (belos tempos!!), mas o que ficou na “retina” dos adeptos do futebol foi a campanha europeia.
O 1º adversário foi o Bétis de Sevilha, batido na Luz por pouco confortáveis 2-1. No encontro da 2ª mão o Benfica foi para o intervalo a perder por 1-0. Reza a lenda que Erickson deu um valente puxão de orelhas aos seus pupilos exigindo-lhes que jogassem como se estivessem no seu reduto. O discurso arrojado deu furtos com a equipa a virar o resultado e a seguir em frente.
Depois de Lokeren (2-0 e 2-1) e FC Zurique (1-1 e 4-0) terem sido despachados o “azar” bateu à porta ao sair a poderosa AS Roma de FrancoTancredi, Falcão e Bruno Conti.
Lembro-me que o jogo em Itália foi à tarde e teve honras de transmissão televisiva (um luxo para a época). Zoran Filipovic, a grande figura da equipa na prova europeia, bisou na bela vitória por 1-2.
Na Luz, o Benfica marcou 1º por intermédio de... Filipovic, mas Falcão a 10 minutos do fim igualou o marcador. Apesar de nunca ter criado muito perigo junto da baliza à guarda de Bento, a Roma exerceu grande domínio pelo que aqueles 10 minutos foram terríveis para quem viu o jogo ao vivo e em especial para os que o acompanhavam via rádio.
Os golos dos 4ºs de final podem ser vistos aqui.
Faltava um obstáculo para a final, o Universidade de Craiova onde militava Camataru cuja transferência posterior para o Benfica merecia no mínimo um blog inteiro.
A 1ª mão, na Luz, quedou-se por um empate sem golos, muito por culpa dos aguerridos romenos que estacionaram o autocarro à frente da baliza.
Na Roménia um golo madrugador na transformação de um livre directo e onde o malogrado Manuel Bento não ficou nada bem na fotografia, não agourava nada de bom. Para bem dos nossos pecados, Filipovic continuava on fire e acabou por fazer o empate batendo o enorme (na verdadeira essência da palavra) Lung. Este jogo (cujos golos podem ser vistos aqui) também foi transmitido à tarde e eu embora com 5 aninhos na altura, lembro-me perfeitamente.
Chegou a final e com ela o poderoso Anderlecht, que no ano anterior havia sido eliminado nas meias finais da Taça dos Clubes Campeões Europeus pelo Aston Vila.
O resto já todos sabem, derrota em Bruxelas por 1-0 num jogo onde José Luís foi expulso a meio da 2ª parte e um empate maldito no lotado Estádio da Luz. De nada valeu o golo de Shéu pois LoZano empatou logo a seguir.Shéu aos 35 minutos empatou a eliminatória.

O golo de Lozano que gelou a Luz (38 minutos).

Eis as equipas que alinharam nos 2 jogos da final:
1ª mão
Estádio do Heysel, Bruxelas, Bélgica 4/05/1983.
Espectadores: 55. 000
RSC Anderlecht 1 Benfica 0
Anderlecht: Munaron; Hofkens, Peruzovic, Olsen e De Groote; Frimann, Coeck, Vercauteren e Lozano; Vandenbergh (Czernatynski) e Brylle
Treinador: Paul van Himst
Benfica : Bento; Pietra, Álvaro, Humberto Coelho e José Luís; Shéu (Alberto Bastos Lopes), Frederico, Carlos Manuel e Chalana; Filipovic (Nené) e Diamantino
Treinador: Sven-Goran Eriksson
Marcador: Brylle (29')

2ª mão
Estádio da Luz. Lisboa, 18/10/1983.
Espectadores 80.000
Benfica: Bento; Pietra, Humberto Coelho, António Bastos Lopes e Veloso (Alves); Carlos Manuel, Stromberg, Shéu (Filipovic) e Chalana; Nené e Diamantino
Treinador: Sven-Goran Eriksson
Anderlecht : Munaron; Peruzovic, De Greef, Broos, Olsen e De Groote; Frimann, Lozano, Coeck e Vercauteren; Vandenbergh (Brylle)
Treinador: Paul van Himst
Marcadores: Shéu (36') e Lozano (38')

Para concluir e ao jeito de Jorge Kataklisnman no post dos 5 violinos vou tentar caracterizar os principais jogadores da equipa.

Manuel Galrinho Bento: um grande guarda-redes, dos melhores do seu tempo. O suplente Delgado nem a cheirava. Ganhou a alcunha de “homem de borracha”. Quando engatava era muito difícil de bater. Temperamental de vez em quando também dava o seu “franguito” mas quem não os dá?

Minervino Pietra: Defesa lateral à moda antiga, não deslumbrava mas raramente comprometia. Jogava bem com os 2 pés pelo que tanto podia actuar na direita como na esquerda.

Humberto Coelho: O capitão de equipa. Defesa central autoritário gostava de subir no terreno e não foram as vezes em que acabou a época como um dos melhores jogadores da equipa. Já estava na fase final da sua carreira, uma bela carreira diga-se de passagem.

António Bastos Lopes: Formava com Humberto uma bela dupla de homens altos espadaúdos e sobretudo de bigode. Não era tão bom como o colega de sector mas tinha a sua qualidade.
O irmão Alberto também fazia Benfica mas não atingiu o patamar do “mano velho”. Digamos que era uma 2ª escolha. Erickson contudo tinha o bom senso de rodar a equipa não caindo no erro que Fernando Santos cometeu na presente época. Frederico Rosa completava o quarteto de centrais (sim, uma grande equipa tem que ter 4 centrais no mínimo).

Álvaro Magalhães: Compensava uma certa falta de jeito com um empenho desmedido. Formava com Nando Chalana uma asa esquerda capaz de fazer a cabeça em água a muito boa gente.
O entendimento era perfeito, funcionando na base do grito.

António Veloso: Já na altura era um polivalente podendo actuar na defesa ou no meio campo. Normalmente alternava a titularidade com Álvaro.
Era dos mais jovens do plantel pelo que ainda havia de conseguir muitos títulos. Uma brilhante carreira marcada por alguns episódios menos felizes, o controlo anti-doping enganoso que o privou de ir ao México 86, o penalty falhado na final de Estugarda e o amarelo que o impossibilitou de jogar a final de 90 contra o Milan.
O seu filho Miguel Veloso segue as pegadas do pai, mas no rival Sporting. Arrisco contudo que o jovem defesa/ médio pode vir a ser dos melhores do mundo.

Shéu: O pulmão do meio campo. Salvo erro era o médio mais defensivo. Marcou o golo (insuficiente) na final contra o Anderletch. Capitaneou a equipa 5 anos mais tarde na final de Estugarda contra o PSV.

José Luís: Pouco sei dele enquanto jogador do Benfica. Acho que era médio ala e foi expulso no jogo de Bruxelas. Foi internacional A pois tenho-o na minha caderneta do Euro84.
Saiu do clube pouco depois tendo actuado com o irmão no Marítimo de Everton e Paulo Ricardo.

Carlos Manuel: A locomotiva do Barreiro. Natural da Moita tinha uma apetência especial para os golos nos jogos decisivos. O herói da classificação para o México 86 era igualmente um exímio marcador de livres.
Apesar do Sporting ser o clube do seu coração, mostrou ser um grande profissional enquanto representou o Benfica.
Saiu para o Sion da Suiça, mas ainda voltou a Portugal para representar o Sporting, o Boavista e o Estoril Praia, conhecendo no clube da linha o prazer (argg) que é ser treinado por Fernando Santos.

Fernando Chalana: O pequeno genial. Era na minha modesta opinião, e não só, o melhor jogador da equipa. Não fossem as lesões e a esposa Anabela e poderia ter brilhado ainda mais.
Fez um grande Euro84, tendo no final sido transferido por valor recorde para o Bordéus.
Fustigado pelas lesões, ainda voltou à Luz. Jogou igualmente no Belenenses e no Estrela da Amadora.

Diamantino Miranda: Outro dos grandes craques da equipa. Era titular indiscutível no Benfica e na selecção nacional a qual viria a renunciar com apenas 27 anos. Problemas com o Dr. Silva Resende.
A sua carreira ficou marcada pela lesão que contraiu dias antes da final contra o PSV. Foi na Luz na vitória por 3-0 ante o Guimarães que um tal de Adão fez com que o Benfica começasse aí a perder a final.
Saiu do clube no início da década de 90, assinando pelo Vitória de Setúbal. Ainda me recordo após uma vitória por 2-0 sobre o clube do coração um Diamantino emocionado disse “ganhámos à melhor equipa do Mundo”.

Stromberg: era o jogador que maior curiosidade me despertava. Um homem tão alto e loiro não era nada normal. O meu pai dizia-me que era de molhar o pão no ovo estrela. Enfim, coisas que não vos interessam nada mas que a mim me dizem muito.
Foi o pioneiro do sucesso do clube com os nórdicos (até à chegada de Pringle, claro).
Do Benfica transferiu-se para a Atalanta de Itália.

Nené: O meu ídolo. Era conhecido por não sujar os calções e por marcar golos de pantufas. Começou a carreira a médio direito mas acabou-a como ponta de lança.
Era extremamente correcto e bastante oportuno. No global era o melhor marcador da equipa.
Já com 34 anos, marcou o golo que nos colocou nas meias finais do Euro84. Foi na vitória por 1-0 contra a Roménia.

Zoran Filipovic: Foi o herói da campanha europeia do Benfica época 1982-83.
Marcou muitos e decisivos golos, entre os quais os 2 no Olímpico de Roma e o do empate em Craiova.
Actuou ainda pelo Boavista. Como treinador levou o simpático Salgueiros à Taça UEFA fruto de um brilhante 5º lugar no campeonato, manteve o Beira-Mar na 1ª divisão e fez parte daquela mítica equipa técnica de Artur Jorge que incluía igualmente o Professor Neca.

João Alves: Um tecnicista. Médio de elevados recursos tinha a particularidade de actuar sempre de luvas pretas, daí a alcunha “o luvas pretas”. Era uma homenagem ao seu avô.
Quando saiu do Benfica, jogou no Boavista.

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